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Dicionários de Figuras e Mitos Literários das Américas

 

INTRODUÇÃO

 

Verifica-se, no contexto brasileiro, a inexistência de dicionários de figuras e mitos literários próprios das Américas, em geral, e do Brasil em particular. Os dicionários de mitos e de símbolos disponíveis atualmente são traduções de obras européias (ex. Dicionário de mitos literários, organizado por Pierre Brunel, 1997), centrados, portanto, no imaginário greco-latino e europeu, deixando de incluir as figuras e os mitos do imaginário coletivo das Américas.

 

A linha de pesquisa, desenvolvida no âmbito do GT da ANPOLL, Relações Literárias Interamericanas, vem procurando refletir e definir o estatuto das relações culturais e literárias interamericanas. Como contribuição a essa linha de investigação, levou-se a cabo, em um primeiro momento, o mapeamento dos textos fundadores do comparatismo literário interamericano (http://www.ufrgs.br/cdrom ). Parece ter chegado o momento de mapear o imaginário coletivo do continente americano, através do levantamento de figuras e mitos que caracterizam o que se poderia chamar de "grande narrativa das Américas", embora se tenha consciência da heterogeneidade das produções culturais e literárias das Américas. Não se trata de um trabalho de cunho etnográfico ou antropológico, como os excelentes dicionários de Câmara Cascudo, por exemplo, cuja preocupação é a de elencar mitos indígenas, africanos e americanos de modo exaustivo. O DFMLA visa a repertoriar tão somente figuras e mitos que emergem em narrativas literárias e paraliterárias, caracterizando o imaginário das Américas, ou seja, as figuras míticas cujas origens remontam às "descobertas", à colonização e aos diferentes processos de autonomização cultural que aqui se encenaram. A maior parte dessas figurações míticas são fruto de processos sucessivos de mestiçagem e hibridação que se produziram nas Américas desde 1492.

 

As figuras, os mitos, os lugares simbólicos e as utopias que compõem o imaginário coletivo americano inscrito nas narrativas das três Américas, foram repertoriados, descritos, analisados e postos em perspectiva comparada, com o intuito de desvelar especificidades desse imaginário. O dicionário corresponde a uma cartografia do imaginário coletivo das Américas, apresentando as figuras e os mitos em ordem alfabética, mas também procurando mostrar que eles pertencem a conjuntos maiores que chamamos de constelações . Trata-se de listar as representações literárias do imaginário, visando a apreender uma sintaxe do imaginário coletivo americano, através de constelações que abrigam imagens pertencentes ao mesmo campo semântico e que correspondem ao que Gilbert Durand chama de bacias semânticas, que são "identificadas por regimes imaginários específicos e mitos privilegiados" ( Campos do Imaginário , 1996, p. 165) .

 

Quer-se repertoriar as representações que as sociedades, no contexto das três Américas, elaboraram e continuam elaborando sobre si próprias. O DFMLA apresenta um inventário de imagens que emergiram num contexto inicial de colonização e, posteriormente, na sua fase de emancipação, quando foram gestadas as idéias de nação independente e de autonomia literária. Muitas das figuras míticas são comuns aos hemisférios Norte e Sul do continente americano; outras, porém, caracterizam apenas um determinado país ou território geográfico ou cultural. Apesar da grande heterogeneidade que caracteriza o imaginário das Américas, o dicionário justifica-se por assinalar figuras-chave e suas recorrências que marcaram momentos cruciais nos processos de construção identitária.

O DFMLA, cujo marco teórico são as obras sobre o imaginário enunciadas pelo teórico canadense, Gérard Bouchard, considera o imaginário coletivo como um fato social. A grande variedade das configurações míticas apresentam elementos comuns, constantes, sendo possível, como assinala Bouchard, pensar em "uma lógica das recorrências" (Bouchard, 2000, p. 398).

 

 

Projetos Concluídos

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